Foi em Curuçá, no nordeste do Pará, onde os rios são as vias mais importantes de transporte e as distâncias parecem se ampliar em cada curva da água, que uma história de superação, e inusitada, aconteceu nas primeiras semanas do ano corrente. Aconteceu no distrito de Abade, local em que o Enfermeiro Yago Macêdo se deparou com um cenário raro e desafiador.
Maria Cecília, uma pequena criança que, antes mesmo de nascer, já enfrentava os desafios da Amazônia, veio ao mundo a bordo de uma canoa. Como se não fosse o bastante para a mãe e para a equipe de saúde, o parto aconteceu às margens do rio, sem as condições ideais de um centro de saúde.
Yago, que há quase três anos atua como profissional de Enfermagem na região, relatou a experiência com um olhar de quem vive a realidade do interior. A ação foi rápida e envolveu não apenas sua experiência, mas também o apoio da equipe técnica de Enfermagem e o auxílio de um motorista, que se tornou mais importante ainda nesse momentos de grande tensão.
“Naquele momento, a situação exigia que agíssemos com a maior rapidez possível. A gestante estava bem consciente, sem sangramentos, o que foi um alívio para todos nós. O bebê, porém, estava com dificuldades respiratórias. Ele estava um pouco cianótico, o que nos fez agir rapidamente na desobstrução das vias aéreas e manter sua temperatura. Quando conseguimos estabilizá-lo, ele começou a chorar, o que nos deu a sensação de que tudo ficaria bem”, contou o profissional de Enfermagem.
O processo foi tudo, menos simples. A canoa, apesar de ser o meio de transporte mais comum entre os ribeirinhos, não oferece a estabilidade necessária para realizar um atendimento com os mínimos recursos. Yago falou das dificuldades de equilíbrio, da pressa para agir e da incerteza de como garantir que, naquelas condições, Mãe e filha chegariam com segurança ao hospital.
“Foi uma luta contra o tempo e contra as condições. Não estamos preparados para realizar um atendimento dentro de uma canoa, com o movimento das águas e a falta de estrutura. O equilíbrio foi uma grande dificuldade. Eu, a Técnica de Enfermagem e o motorista fizemos o nosso melhor, sempre pensando em garantir a segurança dos dois”, destacou.
Com a agilidade da equipe, a mãe e a criança finalmente foram levadas para o hospital, onde a avaliação continuou. A jornada, no entanto, não terminou ali. Além de garantir os cuidados pós-parto, como a retirada da placenta e a administração de medicação para prevenir hemorragias, foi necessário um acompanhamento completo da saúde da mãe e do bebê. As medidas antropométricas do recém-nascido, a checagem dos sinais vitais e o contato pele a pele com a mãe foram apenas algumas das ações que seguiram.
“A cada etapa, eu sabia que tínhamos feito o melhor que podíamos com os recursos que tínhamos à disposição. O nosso trabalho vai muito além da técnica. É sobre estar presente, é sobre ser a esperança em meio ao imprevisto”, disse.
Yago lembra também da importância do contato com a mãe, que era acompanhada de perto para garantir que todas as etapas do pré-natal tivessem sido realizadas corretamente. Para a criança, a observação era constante, assim como os exames solicitados para garantir que não houvesse nenhuma complicação futura.
Embora a experiência tenha sido difícil e cheia de desafios, Yago não consegue esconder a satisfação de ter cumprido sua missão. “É uma satisfação indescritível saber que conseguimos proporcionar o cuidado necessário, mesmo em uma situação tão adversa. Isso é o que move a Enfermagem. Não se trata de recursos ou de estrutura, mas da vontade de cuidar e de fazer o bem, onde quer que estejamos”, conclui Macêdo.