“Boa praça, bom de lábia e, acima de tudo, vendedor”. E que seria engenheiro, e ainda, dono de empresa. Seu Divino profetizou, incentivou a vida toda e, bingo: o filho Raphael Baptista, 37, não só virou engenheiro eletricista, como optou por “trilhar o caminho do empreendedorismo”, conforme sempre soube que faria. E criou, há 13 anos, a Hineltec.

Especializada em projetos e serviços de engenharia para grandes consumidores ou geradores de energia, como shoppings, hospitais, indústrias e usinas, a empresa do carioca Raphael cresceu tanto que precisou abrir outra unidade em São Paulo. E enxergou a oportunidade de se associar a negócios correlatos e complementares para ampliar o escopo, como uma fábrica de cabines elétricas de média tensão e também na área de serviços de automação industrial. Outras entraram para o time pelo potencial de inovação de alto nível – caso da startup de engenharia de tecidos e impressão 3D. E da H-Smart, empresa que une sistemas de segurança e sustentabilidade através de Inteligência Artificial.
A base de crescimento é uma só: gestão humanizada, do tipo que coloca todos da equipe para “crescer junto”, e foco em “conexões e na qualidade dos relacionamentos”, segundo Raphael. Com essa gestão, somada à sua visão aguçada de negócios, hoje a holding H7, que deve fechar 2024 com faturamento total de R$ 25 milhões.
Até a empresa chegar a esse patamar, o caminho foi longo. Mas sempre pavimentado por seu Divino, técnico em eletrônica, especializado em máquinas industriais, e a mãe, dona Maria Sônia, atualmente formada em contabilidade, mas que desempenhou a função de costureira por muitos anos, para ajudar no sustento da família. Trabalhando a vida toda como CLT – até criar sua própria prestadora de serviços especializados em manutenção de máquinas industriais, que de início atendia aos antigos empregadores, mas logo em seguida expandiu para todas as marcas do segmento -, o pai de Raphael sempre exaltou as características do filho, citadas no início desse texto, e da filha Leandra, com perfil oposto ao do irmão, que se tornou uma cientista e empreendedora.
Para não repetir a própria experiência familiar de dificuldades financeiras, incentivou cada um a seguir seu caminho, mas sempre se esforçando para que os dois estudassem nas melhores escolas, e conseguissem fazer parte da geração da família que iria “escalar um degrau a mais no patamar social”, lembra. “E foi o que aconteceu: o pai vai colocando coisas na cabeça da criança, fala sempre que vai ser vendedor… então ele motiva a gente a vender”, lembra Raphael. Ainda na escola, comercializava tudo o que pai recomendava ou trazia das fábricas em que trabalhava para ajudá-lo a desenvolver sua vocação.
De sorvete a gibi, passando por cornetas da Copa do Mundo e até bonecos dos Cavaleiros do Zodíaco, o então estudante sempre voltava para casa de mãos vazias – e bolso cheio. Também dava aulas particulares de matemática e física para engordar a renda, conforme lembra, divertido. Mas tudo em prol de um objetivo maior: ter o próprio negócio.
Da faculdade de Engenharia Elétrica na Universidade Federal do Rio de Janeiro, ao estágio por dois anos em uma empresa, passando pelo MBA em Gestão Empresarial e Negócios, Raphael conta que essas experiências foram essenciais para abrir sua mente, procurar livros, ampliar o networking, receber mentoria de professores e participar de projetos de altíssimo nível. Até desenhar os primeiros projetos de subestações – o embrião da Hineltec.
“Meu pai sempre dizia: se eu faturava R$ 1 mil, sempre me considerava faturando R$ 10 mil, R$ 100 mil, R$ 1 milhão. E não no intuito de gastar, mas no sentido de me planejar e enxergar sempre à diante”, conta Raphael, que passa os mesmos ensinamentos para o filho Matheus valorizar o dinheiro. “Montamos uma barraca para ele vender limonada no condomínio em que moramos e, assim, ele aprender como fazer de um ‘limão uma bicicleta’”, se orgulha.
NO CAMINHO DO EMPREENDEDORISMO
No começo, sozinho com seu notebook em casa, Raphael passou a divulgar e vender seus projetos e usava o CNPJ do pai para emitir notas. Na ocasião, seu Divino se tornou prestador de serviços da empresa que ele trabalhava e encerrou as operações no Brasil e começou a terceirizá-lo, já que ele tinha um CNPJ, “para manter as máquinas funcionando”, conta.
Naquele período, Raphael, que também aprendeu com o pai a importância de ter um contador, teve seu Divino um sócio, tanto para usar a conta da empresa como para pegar as primeiras linhas de crédito. Um ano depois do início do projeto próprio, decidiu contratar um eletricista e andar pelas próprias pernas.
Ao oferecer diagnósticos e soluções energéticas e criando subestações de grande porte que ocupam um espaço similar a uma grande loja do varejo, como uma Casas Bahia, por exemplo, conforme conta, a empresa criada por Raphael ganhou fama por garantir estabilidade nas operações, além de segurança e a documentação específica para indicadores de periculosidade para que o cliente não corra o risco nem de ficar sem energia, nem de acidentes, explica.
Hoje, com as duas unidades, a Hineltec conta com cerca de 80 funcionários no total, e atende clientes do porte da Cosan, Baker Hughes, Multiplan e Rede Dor, entre outras.
Com o sucesso da empreitada, que teve também o dedo da mulher Carolina Gonçalves, contadora e economista, Raphael achou que tinha que levar o resto da família para crescer com ele. Assim, incentivou a irmã, Leandra Baptista, a empreender também.
HOLDING BILIONÁRIA
Hoje, “sem ser CEO de nada”, conforme brinca, Raphael conta que virou o que seu pai enxergava nele: um vendedor, que faz amizades, se comunica, tem facilidade de montar equipes e traz cada vez mais negócios.
Mas agora, com um propósito: trazer família e equipe juntas nessa onda de crescimento. Toda essa reflexão sobre sua jornada empreendedora levou Raphael a estudar Filosofia e Teologia para trabalhar gratidão, humildade, e poder ver as pessoas no entorno juntas, crescendo e superando crises. Além de fazê-lo “botar o pé no chão”, acredita.
“Não adianta tomar um café da manhã sozinho, fazer uma festa na Torre Eiffel sem nenhum amigo… Não faz sentido. A diferença social afasta, gera conflito, todos têm que evoluir. É bom ver meu pai, que sempre me ajudou e nunca pediu nada em troca, ganhar como técnico mais que muitos engenheiros. Ou minha esposa, que me viu empreender, tem o próprio escritório de consultoria. Meu ex-estagiário, que virou meu sócio, conquistou um carro para a família e uma boa moradia. É dividir para poder multiplicar, senão perde a graça.”
Com meta de dobrar o faturamento de R$ 25 milhões ano a ano, a projeção da nova holding é virar ‘unicórnio’ em 2029. Ou seja, atingir valor de mercado de R$ 1 bilhão.
“O ano que vem (2025) é certeza que (o faturamento) dobra”, afirma Raphael, do alto da sua confiança nos negócios e em sua equipe. “Chegar a R$ 1 bilhão até 2029 pode parecer difícil, mas como um grupo, com todos os investimentos que estamos fazendo, e somando o valuation das empresas, vamos deixar a holding bilionária em cinco anos, para distribuir lucros e valores altos para quem está ali todo dia fazendo acontecer.”