A obesidade infantil não escolhe classe social — e começa muito antes de os primeiros quilos extras aparecerem na balança. No Brasil, 14,2% das crianças com menos de cinco anos já apresentam excesso de peso, segundo dados do Ministério da Saúde, e projeções da Fiocruz indicam que esse número deve continuar subindo nas próximas duas décadas.

Para o pediatra Claudio Ortega, de Niterói, a introdução alimentar é um dos momentos mais decisivos para prevenir esse cenário. “A forma como a criança aprende a comer nos primeiros anos de vida influencia diretamente sua relação com a comida ao longo de toda a infância — e até na vida adulta”, alerta o médico.
Entre os erros mais comuns, Ortega cita o uso precoce e frequente de ultraprocessados, como papinhas prontas, biscoitos e iogurtes açucarados. “Muitos pais, mesmo bem informados, caem na armadilha do ‘só um pouquinho’. Mas os hábitos se formam cedo. Uma criança que se acostuma com sabores muito doces ou salgados vai rejeitar alimentos naturais depois.”
Outro ponto de atenção, segundo ele, é o uso da comida como recompensa emocional. “Associar comida a prêmio ou consolo ensina a criança a comer por ansiedade, e não por fome. Isso é um fator de risco claro para o desenvolvimento da obesidade”, explica.
Mas há boas notícias: os pais podem agir de forma preventiva. Claudio Ortega recomenda oferecer alimentos naturais desde os seis meses, respeitando os sinais de fome e saciedade da criança, e envolvendo-a em rotinas alimentares familiares e saudáveis. “Evite telas durante as refeições, aposte na variedade e não tenha medo de reapresentar um alimento que a criança rejeitou de início. Comer bem também se aprende.”
Mais do que uma fase passageira, a introdução alimentar é um investimento na saúde futura. “E, quando bem conduzida, pode ser o primeiro passo para uma vida inteira de boas escolhas”, completa.