
Você já ouviu falar do Holocausto Brasileiro ?
Saúde mental no Brasil
Barbacena, a cidade-manicômio que sobreviveu à morte atroz de 60.000 brasileiros .
Nós bem sabemos que a saúde mental no Brasil antigamente não era prioridade .
O HOSPITAL PARA PACIENTES PSIQUIÁTRICOS EM BARBACENA, MINAS GERAIS, TINHA COMO MAIORIA DOS INTERNOS ALCOÓLATRAS, HOMOSSEXUAIS, POBRES E MÃES SOLTEIRAS .

Pacientes psiquiátricos foram tratados como anomalias durante anos no Brasil e no mundo, entretanto, após décadas de tortura, como a ocorrida dentro do Hospital Colônia Barbacena, em Minas Gerais, mudanças nas políticas de tratamento foram criadas, garantindo que a humanidade fosse devolvida para os ambientes hospitalares.
O QUE FOI O HOLOCAUSTO BRASILEIRO?
O Holocausto Brasileiro foi responsável pela morte de 60 mil pessoas na cidade de Barbacena, Minas Gerais. O caso, que ocorreu no maior hospital psiquiátrico da época, o Hospital Colônia, recebeu esse nome após a visita do psiquiatra italiano Franco Basaglia, em 1979. Entre suas declarações, o médico disse estar em um local semelhante à um campo de concentração nazista e nunca ter visto uma tragédia como aquela. As vítimas eram forçadas a ir para o Hospital Colônia sem mesmo constar que possuíam algum tipo de transtorno mental. Segundo Daniela Arbex, em seu livro reportagem sobre o Holocausto Brasileiro,
Eram epiléticos, alcoolistas, homossexuais, prostitutas, gente que se rebelavam , gente que se tornara incômoda para alguém com mais poder. Eram meninas grávidas, violentadas por seus patrões, eram esposas confinadas para que o marido pudesse morar com a amante, eram filhas de fazendeiros que perderam a virgindade antes do casamento. Eram homens e mulheres que haviam extraviado seus documentos. Alguns eram apenas tímidos. Pelo menos trinta e três eram crianças.

O hospital mineiro, fundado em 1903, era destinado a pacientes psiquiátricos e muitos vinham a óbito, devido à ausência de assistência médica e à falta de saneamento básico, além dos tratamentos de tortura, como fome, frio e maus tratos físicos e psicológicos. Depois de mortos, os corpos eram vendidos ilegalmente, sem a autorização da família, para faculdades de medicina da época. Entre os anos de 1969 e 1980, foram registradas cerca de 1.853 vendas para 17 faculdades de medicina no Brasil.
Antônio Gomes da Silva, um dos sobreviventes do hospital, conta no livro de Daniela Arbex que não soube o motivo de ser preso. “Cada um fala uma coisa. Mas, depois que perdi meu emprego, tudo se descontrolou. Da cadeia, me mandaram para o hospital, onde eu ficava pelado, embora houvesse muita roupa na lavanderia. Vinha tudo num caminhão, mas acho que eles queriam economizar. No começo, incomodava ficar nu, mas com o tempo a gente se acostumava. Se existe inferno, Colônia era esse lugar.”
Em 1961 os horrores que os pacientes enfrentavam foram divulgados pela primeira vez, através das lentes do fotógrafo Luiz Alfredo da revista O Cruzeiro. Dezoito anos depois, em 1979, o jornal Estado de Minas publicou uma reportagem sobre o caso, “Os porões da loucura”, e o cineasta Helvécio Ratton produziu um documentário chamado “Em nome da razão”.